domingo, 12 de fevereiro de 2012


Campo deserto



Na madrugada fria e melancólica
Teus olhos doces invadem minhas lembranças
E nesse instante minha alma ardente tem a certeza
Que teu porvir é desfalecer no meu porvir.

E cada gota de orvalho que molha a terra
Semeia o nascimento desse insigne amor
No campo deserto de ventos ríspidos
A chuva escoa com prenúncio de volúpia.

O sol desponta no horizonte e a chuva se esvai
E traz luz a um amor que nasce e renasce no infinito
Da lívida candura que brota a essência desse amor
Fazendo-me prisioneiro de mim mesmo.

Acorrentando-me no anelo de tocar os teus lábios
Navegar minha língua suavemente em tua boca
Murmurar em teu ouvido palavras de amor
E enlouquecer de prazer, em teu corpo suado.

Cobrir tua pele lisinha com meus beijos
E no silêncio do teu gemido, delirar de prazer
Desvencilhando a timidez momentânea do teu olhar
Entregando-se a ardência da alma, que queima de paixão.

Esse amor ocupa o campo que estava ermo
Com seus lírios pálidos pela ausência de ternura
E o cravo lívido tornar-se-á cintilante
Com o amor que chega... e seja eterno, enquanto ame.


quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Faúlhas de amor


      A aurora desponta com prenuncio reptante na manhã de Açucena. Ela retorna a mansão onde viveu sua infância, cresceu, passou momentos de volúpia e desalento. Ao presenciar o cenário de abandono, mergulha no deserto de suas lembranças. Na tentativa de resgatar páginas de sua história, escrita em cada recanto daquelas paredes. Cata no fundo da alma recordações que possam abrir o livro de sua existência, e dar-lhe a oportunidade de superar conflitos psíquicos. Em nome de um porvir que venha vencer a angustia, medos e transtornos que tanto afugenta sua felicidade.
       Adentra a sala e passa a mão sobre os moveis empoeirados. Junto aquele pó, nesgas tétricas de um passado e fagulhas de um amor viril.  Alguns passos à frente... comove-se ao observar porta-retratos de seus ancestrais, e um piano desafinado. Nesse instante, recorda do tempo em que sua avó reunia a família para belíssimas apresentações. Tocava Barry Douglas como poucos. E, a musicalidade daquele pianista irlandês, interpretado por sua avó com tamanha suavidade, proporcionava-lhe uma sensação de paz e aconchego. As notas musicais fluíam com tanta harmonia que a fazia suspirar de desejos, atiçando a quimera de viver uma sublime paixão.
       Senta-se, remove a toalha branca sobre o piano, que apesar do tempo conserva sua cor de marfim, e ensaia algumas notas. Retoma as lembranças. Recorda que as exibições de sua avó findavam constantemente com o austríaco Alfred Brendel, em meio a aplausos, cumprimentos e sorrisos. O sentimento de que está abrindo o alfarrábio de seu ser e folheando cada página de sua vida, impregna-se na alma.
       Caminha até o jardim e depara-se com folhagens... Das rosas, orquídeas, antúrios, cravos e gérberas, restam apenas os galhos. Percebe ao longe, que uma flor de açucena, apesar de castigada pelos maus tratos ainda resiste. Seu avô plantara aquela herbácea em sua homenagem. A flor que leva seu nome não sedia as adversidades do tempo. Essa constatação a faz refletir sobre seus fantasmas, pesadelos e descontentamento. Sua luta para superar o vazio causado pelo óbito de seu grande amor, em um acidente aéreo. Era véspera do casamento... Todavia, os desígnios inexplicáveis que regem as forças do acaso, limitaram um curto tempo para os dois. Um convívio efêmero, diante da perspectiva de compartilhar uma vida por inteiro. Entretanto, um amor que rompeu as barreiras do tempo rumo ao infinito. E, aquele largado palacete, herança passada a cada nova geração, foi o refugio de seus últimos momentos.
       A noite chega de forma encantadora, apesar do frio intenso pela aproximação do inverno. Açucena recolhe-se a seu aposento após um exaustivo dia de recordações e sentimentos de perda. Da varanda de seu quarto observa uma estrela resplandecendo no céu. Resistindo ao nevoeiro que teima em ofuscar seu brilho.
       A moça de olhar sereno conclui que as provações existem para serem superadas. Que precisa enfrentar a realidade sem nunca desistir de sonhar. Já que os sonhos são engrenagens que movem a esperança de um novo horizonte. É com esse desejo que ela vai dormir! Com a certeza de que no vindouro amanhecer o sol se fará presente. Embora nuvens carregadas teimem em persistir, a luz prevalecerá. E a vida segue seu curso no porvir de Açucena...

No balé das floras


Chegaste com a delicadeza de uma rosa
Feito gota de orvalho em terra fria
No encanto do olhar... versos e prosas
Inspirando, na canção, a melodia.

Chegaste... e o híbrido dominante daquele jardim
Rende-se ao fascínio, por tamanha ternura
Enquanto os lírios, exuberantes, louvam a ti
E no jeito frugal... suavidade, carícia, doçura.

Ao passo que a cor gris do torilo da rosa branca,
Abandona o seu desolamento tornando-se flor
O meu coração de pedra, em seu leito abranda
Para render-se, ao inusitado delírio do amor.

Chegaste... e que seja sempiterno esse amor que nutre
Embora transitório, efêmero, visto que é chama
Mas se petrifique a cada fração de segundos que dure
Eternizando-se nos mais sublimes gestos de quem ama.

E, hei de te amar, infinitamente, até o ultimo suspiro
Que este, seja por minha morte (tormento de quem vive)
Que não seja pela falta de amor (prenúncio de quem ama).

E se cair no caos da rotina, ou na exiguidade do amor
Em névoas langorosas, possa encontrar-se a sutil razão
Que rege a melodia do nosso amor, a uma nova canção.

Ópera


Olhares plangentes e alma desnuda
Em quimeras inefáveis, flui o amor
No fulgor da musicalidade aguda
Tessitura grave, disseminando louvor.

Corpo insone facultando voz, a noite despida
Com encanto... soa a dramática composição
Trechos sinfônicos que traz guarida
A esse melancólico coração.

Um sorvedouro de sensações paira no ar
E o olhar, delirante de anelos, é colhido pela dor
Atiçando a chama que fomenta a cobiça de amar
Ateando o fanal, que guia o porvir do amor.

Ao passo que a voz aguçada aplaca as dores
No planger de um violoncelo em ação
No jardim dos sonhos, brota as flores
De uma transcendente paixão.

A platéia vai ao delírio no glamour da orquestra
Enquanto, o amor se faz presente em meu coração
Rendido pelo seu sorriso meigo e sereno:
Júbilo disseminando ventura, em meio à multidão.

 Mesmo que esse amor não seja rocha no leito do rio
Que suporta as tribulações sem se queixar
Já valeu apena, somente pela sensação de amar.

Artigo: Educação em estado de alerta


A educação pública brasileira requer atenção especial. Recentemente foi destaque na imprensa a carência de professores, em diversas escolas do país. Essa triste realidade estaria obrigando alunos, da região Sul e Sudeste, a levarem provas para fazer em casa, pela falta de educadores para assumir as vagas. Enquanto isso, graduação em Licenciatura já não faz parte da quimera dos vestibulandos. Existem motivos para essa apatia a uma profissão tão digna? Sim, com certeza. Caso contrário, de três mil efetivados no ultimo concurso público para professor, no estado do Ceará, centenas destes, não teriam abandonado o cargo. Portanto, é notória a constatação que a educação pública demanda cuidados especiais.  
     A lei do piso salarial foi propagada com prenuncio de saldar uma divida histórica com essa classe tão desprestigiada pelos governantes. Pura utopia! O Congresso Nacional aprovou uma lei que não atendeu a expectativa da categoria. Etimologicamente falando, piso é uma derivação regressiva do verbo pisar. Foi exatamente o que ocorreu. Pisaram nos sonhos e esmagaram a esperança dos educadores de cada recanto desse país. Mas, como se já não fosse suficiente, muitos estados e municípios descumprem a determinação da lei, em sua plenitude. E, quando esses profissionais decidem ir à luta para exigir seus direitos, são atropelados pela força do poder governamental. Quem optou pela arte de educar não merece spray de pimenta nos olhos! Caso lastimável ocorrido com os professores municipais da capital cearense, em pleno direito de greve garantido pela constituição em vigor.
     Você acredita que educação é prioridade nessa terra de sol nascente e belíssimas praias? Se sua resposta é não, comunga com a minha. Caso contrário, o governo Cid Gomes teria impedido a greve dos professores estaduais, anunciada desde o dia trinta de junho. Houve tempo suficiente para encontrar um denominador comum. Atender os anseios da categoria e evitar prejuízos aos alunos, que estão prestes a enfrentar o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM). Os professores reivindicam o cumprimento da lei do Piso Nacional Salarial, que o governador do Ceará, em conjunto com o Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e Mato Grosso do Sul, questionam junto ao Supremo Tribunal Federal (STF), a constitucionalidade da lei. Um impasse que somente traz perdas a estudantes e desestimulo aos professores.
     O tema educação precisa urgentemente sair dos discursos tempestuosos de palanques eleitorais e partir para a prática. Canções propagadas em rede nacional pelo Ministério da Educação, exaltando a importância do professor, não são suficientes para iludir a classe e convencer adeptos a cursar graduação em Licenciatura. É necessário equiparar o salário dos educadores com os de outras categorias de formação acadêmica. Os docentes precisam engajar-se nessa luta. Criar políticas pedagógicas condizentes com nossa realidade também é um caminho a ser tomado. Chega de reproduzir modelos didáticos que deram certo em países desenvolvidos. O Brasil vivência um quadro preocupante que demanda reflexão. O momento é de encarar nossa realidade com poucas falácias e mais ações.
     Quais os vestígios da deficiência de uma política educacional? Domínio da criminalidade, império da violência e escravização de jovens e adolescentes no mundo das drogas. Esses sinais já estão batendo em nossa porta. É uma verdade que não pode ser negada. Não se faz uma nação consciente de seus direitos e cumpridora de suas obrigações, sem um sistema educacional pautado na qualidade do ensino e valorização de seus educadores. O magistério precisa ser uma carreira que venha valer a pena financeiramente, para entrar no topo das profissões cobiçadas. Para o economista americano, autor do livro O Novo Brasil e professor emérito da Universidade Columbia, Albert Fishlow, "a forma mais eficiente para conseguir uma melhor e mais justa distribuição de renda é investir na educação. Na minha concepção, o governante que ainda não despertou para esse fato é porque não tem visão sócio-cultural.    
     Chegou o momento de romper as amarras de paradigmas obsoletos e garantir uma instituição de ensino formadora de cidadãos conscientes. Educar é um árduo oficio que deve ser partilhado entre escola e família. A educação encontra-se em estado de alerta. O sinal vermelho está acionado. Que as autoridades constituídas e a sociedade organizada façam cumprir o papel que lhes cabem, em nome de um porvir traçado pela disseminação cultural. E esta, possa fluir no sorriso de uma criança ao folhear as páginas de um livro, e declamar com glamour um poema que exalta o orgulho de ser brasileiro.   

Publicado no Jornal Correio de Russas

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Ilha de anelos


Plenilúnio no alto da montanha, cercada de rosas
Em meio à névoa diáfana, a volúpia ardente...
A fragrância das flores transcende, tornando-se prosas
Campinas em jardins floridos e dor em sonhos pungentes.

Segrego pra lua meus anelos que emergem do âmago
Aonde o mais notável violoncelista não consegue alcançar
A nota musical que ao meu coração acalenta, trazendo afago
E soa a canção que faz a melodia do amor desabrochar.

Na manhã a aurora renasce plenamente sobre o monte
E no choro de um violoncelo que clama por amor
A margem do rio, com o sol intenso surgindo no horizonte
Provocando utopia, a imaginação de um recôndito sonhador.

Foge-me a liberdade com a revoada dos pássaros
Como um tresloucado notívago ariscando-se sem pudor
E este andarilho tem a solidão companheira de seus passos
Viajante incansável do tempo na eminência de seu amor.

E quando a realidade emergir e o sentimento aflorar...
As almas irão render-se a paixão como o orvalho e a flor
Quem irá insurgir-se para erguer o véu de Maya?
Mergulhar nas nuvens do infinito ao encontro de seu amor!

E como perfume que emana da essência das flores
O niilismo dará lugar à certeza consorte do nosso porvir
Já os amantes, render-se-ão ao fascínio mundo dos amores.

segunda-feira, 11 de abril de 2011

O segredo dos seus olhos

Seus olhos ocultam segredos indecifráveis
Mistérios de uma noite de luar ao som do violino
Lembranças de quimeras realizadas no alvorecer
Melancolia que transborda em lágrimas indesejáveis
Alacridade que transcende em sorrisos, no entardecer.

É fascinante o mistério que fomenta seu olhar
Desafiando-me, em cada gesto, a conquistar seu coração
E de corpo e alma luzente em seus braços acarinhar
Desvendar os seus segredos... realizar seus anseios...
Entregar-me a utopia do amor e ao desacerto da paixão.

E agora que essa enorme paixão me devora!
Não consigo resistir à tentação de deslindar
A razão da tristeza, que por tantas vezes lhe apavora:
Nesgas tétricas de céu nublado, rompendo-se em lágrimas
Dissimulando a magia que habita esse olhar.

Seus olhos segregam encantos que cativa meu coração
Dádiva ilusória, impregnada na alma, que teima em persistir
Provocando aventurar-me na sensação de caminhar a esmo
Em direção ao sentimento que move o devaneio da razão
De amar-te incondicionalmente, a brisa fria e o sol se esvair.